Era uma morna e enfadonha tarde de setembro de 1998. As universidades federais estavam em
greve, o que condenava milhares de estudantes ao mais completo e degradante ócio. Entre
os estudantes de jornalismo porto-alegrenses estava André Czarnobai, apelidado de forma infeliz logo nos
primeiros dias de faculdade com a alcunha de "Cardoso", pela qual é conhecido até hoje.
Cardoso, assim como a maioria de seus colegas da faculdade de comunicação da UFRGS - a
famigerada FABICO - não tinha absolutamente nada para fazer. E isso pode ser
particularmente irritante especialmente para quem havia cursado apenas
um semestre do curso e estava com a cabeça cheia de idéias e o corpo cheio de disposição.
E pode tornar-se um verdadeiro tormento para quem há apenas algumas
semanas havia descoberto finalmente que faz bem o que mais gosta de fazer:
escrever.
Foi movido por um tédio insuportável e uma vontade absurda de dividir seus escritos com
colegas de aula que Cardoso começou a mandar, diariamente, e-mails gigantescos para uma
lista de cerca de 20 amigos. As mensagens vinham recheadas de críticas de livros e
discos, informações e curiosidades sobre cinema, literatura e televisão, dicas de cultura
e, principalmente, a produção textual recente de Cardoso. Poemas, crônicas, pequenos
contos e principalmente egotrips - estilo que viria mais tarde a caracterizar o e-zine.
Todos os amigos de Cardoso gostaram muito da idéia e logo começaram a mandar-lhe seus
próprios textos, sempre no meio do caminho entre o jornalismo e o lirismo. Cardoso
organizava todos e repassava aos colegas participantes da lista. Em pouco tempo,
um dos leitores sugeriu um título ao fanzine. Brincando com o apelido
"cardoso" e o "online", pelo fato de utilizar a internet como meio, Felipe Becker chamou
o pasquim de CardosOnline. Surgiu também a abreviação óbvia: COL.
No final da primeira semana, Daniel Galera, estudande de publicidade na mesma faculdade
de Cardoso e editor do site literário Proa da Palavra
sugeriu a instituição de colaboradores fixos para o e-zine e se ofereceu como tal. Dono
de um estilo sensível e ao mesmo tempo seguro, Galera era o escritor ideal para dar
andamento ao projeto. Daniel resolveu convidar Guilherme Pilla, estudante de publicidade
na FAMECOS/PUC-RS para fazer parte do time. Além de ter participado de um sem-número de
fanzines e publicações alternativas, Pilla é comprometido com o cinema, tendo participado
de dezenas de curtas produzidos no Rio Grande do Sul nos últimos anos. Cardoso, pra fechar o time,
convidou seu colega de jornalismo Marcelo Träsel, que veio a se tornar o colunista com a
melhor consciência sócio-político-econômica dentre todos, sendo um ácido crítico sempre
ligado no que está acontecendo.
A empreitada deu certo. Em poucos meses, o e-zine estava bastante conhecido nas faculdades do
sul do país, em especial nas de comunicação. Com quatro colunistas fixos escrevendo em duas edções semanais - às segundas e quintas - e publicando sempre colaborações dos leitores, o COL começava
a ganhar nome. O crescimento pediu novas aquisições para o time de colunistas.
Assim, em dezembro do mesmo ano entravam pra equipe o escritor Daniel Pellizzari - mais conhecido
como Mojo - e Hermano Freitas, ex-tudante de filosofia e ex-tudante de direito.
Tudo ia bem, a lista assinantes aumentavam diariamente. Mas ainda faltava uma coisa. Um gostinho a mais. A
"piece de resistance". Uma mulher. A multidão dos marmanjos fazia coro com a multidão
feminina, clamando por uma menina que escrevesse. Finalmente, em janeiro de 99, ela
voltou de SP. E era amiga do Pilla, do Galera e do Pellizzari. Chamava-se Clara Averbuck,
era cantora e discípula de Luis Fernando Verissimo e John Fante, e gostou da idéia de fazer parte do projeto.
E finalmente Guilherme Caon, o Onipresente, estudante de publicidade na
FABICO, foi eleito colunista por ter sido o colaborador com maior volume de textos
publicados no zine até então, completando assim o staff definitivo.
Desde então o COL continua a crescer de forma gradual e silenciosa, conquistando em pouco
mais de um ano mais de 1500 assinantes em todos os estados brasileiros, além de diversos
países na Europa, América do Norte e até Ásia. Todas as segundas, o zine é
enviado via correio eletrônico em formato text-only - somente com texto e ASCII art.
Além de trazer os textos de quatro dos oito colunistas, cada edição traz ainda
colaborações de leitores e, eventualmente, programação de festas e eventos em Porto
Alegre.
Com um estilo debochado e sem compromisso, o staff do COL fala sem frescuras nem censura
sobre sexo, drogas, festas, literatura, cinema, música, arte, política, cultura, humor,
realidade e fantasia. Sem nenhuma linha editorial, publica crônicas, artigos, novelas,
poesias, roteiros, contos, ensaios, reportagens, denúncias e principalmente egotrips e
chinelagem, muita chinelagem.
O sucesso do COL mostra que a internet não é um palco
exclusivo da subliteratura. Pelo contrário, é um vasto e democrático
laboratório onde escritores podem levar sua produção ao público,
debater, experimentar e enfrentar o julgamento de leitores. O contato entre autor e leitor,
na internet, é direto. O COL prova que ainda existem leitores genuínos
numa época em que os jornais aumentam o tamanho de suas letras, estreitam seus formatos e enchem as
páginas com imagens enormes em 4 cores; época em que os romances
dificilmente ultrapassam 200 páginas; época em que supostamente
ninguém mais lê, onde a informação deve ser telegráfica, em que a
elaboração visual importa mais do que aquilo que está escrito. Mas o COL, com seus 70kb de texto puro
em duas edições semanais, demonstra que tem muita gente por aí lendo e, sobretudo, escrevendo.
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