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Capítulo de
"Caos, os Panfletos do Anarquismo Ontológico"
(parte um de "Z. A. T."),
de Hakim Bey
O AMOUR FOU NÃO
É uma Democracia Social, não é um Parlamento
de Dois. As atas de suas reuniões secretas lidam com significados
enormíssimos mas muito precisos para a prosa. Não isso, não
aquilo: seu Livro de Emblemas treme em tua mão.
Traduzido por Daniel Pellizzari
Naturalmente ele caga em mestres-escola &
na polícia, mas do mesmo modo zomba de liberacionistas & ideólogos:
não é uma sala limpa e bem iluminada. Um charlatão
topológico dispôs seus corredores & parques abandonados,
seu intrincado mosaico de negro brilhante & vermelho maníaco
e membranoso.
Cada um de nós tem a metade do mapa:
como dois potentados renascentistas nós definimos uma nova cultura
com nossa anatematizada mescla de corpos, mistura de líquidos —
as costuras Imaginárias de nossa Cidade-Estado borra-se em nosso
suor.
O anarquismo ontológico nunca voltou
de sua primeira pescaria. Enquanto ninguém delatar para o FBI, o
CAOS não está nem aí para o futuro da civilização.
O Amour fou nasce apenas por acidente — seu objetivo primário é
a ingestão da galáxia. Uma tramóia da transmutação.
Sua única preocupação
com a Família reside na possibilidade de incesto ("Crie os seus!"
"Cada humano, um Faraó!") — Ó mais sincero dos leitores,
minha semelhança, meu irmão/irmã! — & na masturbação
de uma criança ele encontra escondida (como em um intrincado brinquedo
oriental) a imagem da desagregação do Estado.
As palavras pertencem àqueles que as
usam apenas até que outro alguém roube-as de volta. Os Surrealistas
se desgraçaram por vender amour fou à máquina-fantasma
da Abstração — em sua inconsciência, buscaram apenas
o poder sobre os outros, & nisto seguiram de Sade (que queria "liberdade"
apenas para brancos crescidos, para que pudessem eviscerar mulheres e crianças).
O Amour fou está saturado com sua própria
estética, enche-se até as próprias fronteiras com
as trajetórias dos próprios gestos, funciona com relógios
angelicais, não é um destino próprio para comissários
& lojistas. Seu ego evapora-se na mutabilidade do desejo, seu espírito
comunal definha-se no egoísmo da obsessão.
O Amour fou envolve uma sexualidade incomum,
da mesma forma que a feitiçaria exige uma consciência incomum.
O mundo pós-Protestante anglo-saxão canaliza toda sua sexualidade
suprimida na publicidade & divide-se em bandos que se chocam: histéricos
pudicos versus clones promíscuos & antigos-ex-solteiros. AF
não quer unir-se a nenhum dos exércitos, não toma
partido na Guerra dos Sexos, entedia-se com oportunidades iguais de trabalho
(na verdade ele recusa-se a trabalhar para viver), não reclama,
não explica, nunca vota & nunca paga impostos.
AF gostaria de ver cada bastardo ("criança
do amor") vir a termo e nascer — AF prospera em engenhos anti-entrópicos
— AF adora ser molestado por crianças — AF é melhor que orações,
melhor que sensimília — AF leva sua própria lua &
suas palmeiras por onde quer que vá. AF admira o tropicalismo, a
sabotagem, o break, Layla & Majnun, os odores de pólvora e esperma.
O AF é sempre ilegal, quer esteja disfarçado
como um casamento ou como uma tropa escoteira — sempre embriagado, seja
no vinho de suas próprias secreções ou na fumaça
de suas próprias virtudes polimórficas. Não é
um tresloucamento dos sentidos, mas sim sua apoteose — não é
o resultado da liberdade, mas sim sua pré-condição.
Lux et voluptas.
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