PACTO GNÓSTICO NOX
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Deus Joga Dados Com o Mundo
Uma Apologia à Masturbação Intelectual com Base em Algumas (in)Verdades Místicas

por Eduardo Pinheiro, 1995



1 - Das falácias, da blasfêmia, da estupidez e da razão



Heisenberg colocou um ponto final (pelo menos até o presente momento) com relação à impossibilidade de qualquer compreensão final de nosso Universo, de suas leis e motivações. Não foi surpresa o fato de que Einstein não tenha aceitado esse fato até o fim de sua vida, apesar de que ele próprio tenha sido o principal motivador da teoria quântica. Einstein acordou o mundo para a obviedade de que qualquer objeto observado é "alterado" pela própria observação, ou seja, o fato que era óbvio para qualquer artista ficou confirmado pela ciência. Nenhum ponto de vista é absoluto e mesmo a observação puramente científica acaba por ser pessoal.

Com a mecânica quântica ficou provado que nada pode ser fielmente observado em seu estado natural e que qualquer observação adiante deveria se basear em estatísticas incertas e hipóteses paradoxais. Isso doeu para quem considerava a ciência como base para a organização social, e para o próprio aperfeiçoamento pessoal.

Mas Einstein não admitiu que a "Mente de Deus" não fosse matemática. Que a mente de Deus fosse "impura" e irregular. Enfim, que deus não fosse Inteligente.


Alguns Conceitos

Inteligência é a capacidade de resolver problemas. Assim, de saída, um ser onipresente e onipotente não deve ser inteligente, pois não há o que resolver e o que compreender, já que abrange tudo. (Mesmo num sistema não -panteísta... Onde quer que se clame onipotência para Deus ele deve ser considerado um ser irracional.) Inteligência é necessidade de um ser imperfeito, para lidar com um determindado ambiente. É ferramenta de sobrevivência. Assim também é a razão, parcela lógica que nos permite discernir o Bem do Mal.

O Bem e o Mal são estados que o homem percebe como favoráveis ou desfavoráveis ao seu desenvolvimento. Assim, enquanto indivíduo selvagem, ele vê o Mal na natureza, com suas paradoxais beleza e horror mixados. Para isto ele cria um mecanismo esperto de sobrevivência, a sociedade, que elimina grande parte dos "males" da vida em contato direto com a natureza. Assim, via inteligência, ele desenvolve abrigo, armazenamento, moral, produção, família, direito, ciência, etc...

Artefatos como estes servem a para proteger o homem da natureza, para defendê-lo tanto de seus próprios aspectos internos animais como do clima, por exemplo.

Assim, um Deus desse tipo está, certamente, acima disto, pois está acima da natureza, criada por Ele.

Criador e Criação

Causa e Efeito na física clássica eram bem facilmente compreendidas por qualquer um. Em física moderna as coisas se complicam pelas novas noções de tempo e espaço.

O Tempo, é uma parte de nossa consciência que coloca as coisas em determinada ordem, assim como a noção de "espaço" separa as coisas e os objetos para que possam ser processados por nosso diminuto cérebro e assim possam gerar reações. Os fatos em sequência (assim como o espaço e a matéria) são, em verdade, "ilusões" (são nossa única realidade possível, seriam ilusões se fosse possível vê-los de fora) causadas por nosso cérebro para permitir mecanismos de sobrevivência. Assim, um Deus Criador estaria acima do Tempo, da Matéria e do Espaço, que seriam maneiras dos homens, como seres limitados, entenderem o mundo. (As próprias leis da termodinâmica são convenções arbitrárias, e relativas, em última análise.) Na verdade, a prova da existência de Deus como simples causa e efeito é extremamente pobre. Se se vai dizer que Deus é eterno e que ele resolveu criar o Universo (O Universo precisa ser criado, Deus não!) é fatal que se confundam as coisas, visto que seria mais simples dizer que Deus é o Universo e que ambos são eternos, não precisando, dessa forma, serem criados.

Daí advém uma questão maior, a da criação da consciência individual.

Com a "criação" de um indivíduo se cria todo um novo pequeno Universo que é baseado nas experiências intransferíveis do ser consciente. Não faz sentido dizer que os seres foram criados iguais e que uns se desenvolveram mais do que os outros, isso é besteira clara se se olha o tempo como feito humano e não divino. Para um Deus Criador não existiria "Ser atrasado" e "Ser adiantado", Ele já teria visto o início, o fim e o meio.

A própria noção de "progresso" é humana.

O Universo não progride, não têm início nem fim, muito menos finalidade. Ou, se tem, não é do escopo do homem perceber isso. Existe, talvez, um ciclo, a respiração do Brahma, como quiser. Mas não existe resultado final. (Leia-se sobre o ciclo da entropia no Universo, a relação da vida com a entropia.)

Os seres são criados diferentes. Melhores ou piores, defeituosos ou virtuosos. Não existe tal coisa como Bom Deus. Deus, se Ele existe nesse tipo de concepção, está acima disso. Ele cria o gênio e o retardado com propósitos, talvez, só pertinentes a ele.

Se o que é Bom para Deus não é necessariamente bom para o homem, como se comporta o contrário?

O que é Bom para o homem deve ser intrínsecamente bom para Deus. Assim, o propósito da criação do homem não é jamais explicada, mas fica claro que as Vontades dos homens são a Vontade do criador. As leis básicas são gravadas qual que biológicamente nas criaturas. Elas preenchem a Vontade Divina na medida que preenchem suas Vontadezinhas criadas. Paradoxalmente, como no taoísmo, o livre-arbítrio só existe quando seguimos o "Tao" (Caminho), ou seja, "A Vontade de Deus". Sistemas inclusive pregam que no momento em que as vontades se unificam não há razão para considerar Deus e o Homem como separados. O homem que faz a vontade divina acaba por se tornar Deus ele mesmo.

Assim, o único padrão que podemos ter de Bom ou Mau é o padrão do indivíduo. Pois somente ele pode saber o que é "correto". A noção de fazer o bem "social" é uma balela. A sociedade é um dispositivo do homem, criada para satisfazer determinadas necessidades. Se o homem se submete somente à sociedade ele, provavelmente, não está seguindo sua Vontade pessoal, que acaba por ser a Vontade Divina. (É claro que existem casos nos quais a vontade verdadeira do homem pode até ser servir a sociedade. Mas vai além aquele que entende esses mecanismos e percebe as Leis da Natureza de uma perspectiva maior.)

A maior das falácias é a da evolução para um mundo melhor. Seja ele na terra ou no "céu". A energia total do universo nunca aumenta ou diminui. Apenas acontecem combinações entre as partes separadas. Como um Deus panteísta sofrendo de esquizofrenia, uma cosmologia poética onde ele se separaria por estar só (comum em muitas mitologias) sendo a única "explicação" para a existência. Pode parecer para a mentalidade fraca que esta sociedade tecnológica em que vivemos é bem melhor do que uma sociedade dita "primitiva". Mas o que conta são os indivíduos. E em qualquer uma dessas sociedades somente uma extrema minoria alcança um ponto de vista um pouco maior do que o do simples gado.

Como Nietzsche disse, o objetivo das massas é criar o super-homem. Assim, apenas alguns "escolhidos" tem a capacidade e o discernimento que permite que sejam realmente livres.

Isso tudo serve para ilustrar apenas que somente o homem é medida para si mesmo, e que não existe Moral externa ao homem, nem ciência, nem espaço, nem matéria, nem razão, nem tempo, pois essas são coisas intríncecamente do Homem. Cada um tem a sua noção dessas coisas. "Uma só lei para o boi e para o leão é opressão."


2 - Da maneira dos que não são gado



A único possível método sincero de aproximação com o mundo é o ceticismo. O indivíduo não pode acreditar em nada que não seja sua experiência própria, deve não só duvidar do outro, mas de outro.

O mundo é, assim, aquilo que o indivíduo experimenta. Se ele acredita em alienígenas, espíritos, deuses ou papai-noel, ele deve ter um bom motivo para isto, assumindo-se, pelo menos, que não seja gado.

Com este texto, por exemplo, eu não pretendi ser imparcial (pois como demonstrei, isto é impossível...) e sim passar minhas própria visão carregada com todas minhas idiossincrasias. E é assim que é sempre, mesmo num trabalho científico.

Tudo que se percebe, existe, é, de fato, invento nosso. Assim, a idéia de Deus é pura invenção do homem (ele "só" existe na cabeça das pessoas, mas esse é o único "existir" possível) mas é inestimável, por exemplo, para a criação de "gado". A idéia da reencarnação é outra. Serve claramente à resolução de questões sociais (a questão das castas indianas, por exemplo) e como sustentação para os que temem a morte (como fim da individualidade... sempre há os que acreditam que o joãozinho ainda existe, mesmo depois de seu crânio explodido, simples medo da morte.)


3 - O cético mais elevado é o que acaba acreditando em duende



Diz o taoísmo que a princípio o homem crê na montanha por preguiça, e assim ele permanece. Mas se ele for sábio, duvidará da montanha e provará sua inexistência. E durante anos sofrerá por sua perda, até, que de relance, num insight, ele verá a montanha a sua frente, e não só isso, conhecerá a montanha como a princípio ele nunca imaginou.

O Ceticismo lava tudo, limpa-nos de todas as possíveis falácias e mesmo das verdades, a percepção pura vem depois, depois de retiradas todas as abominações dessas idéias de "Gado" que giram por aí.

Eu não pretendi dizer que Deus, Reencarnação ou papai-noel não existem de fato. O que eu posso fazer é apontar os mecanismos perniciosos que produziram estas crenças. Mas mesmo isso não prova nada. Portanto devemos nos guiar pelas dicas que as diferentes culturas nos dão.

Nem a Bíblia, nem o Bhagavad-Gita, nem os tratados científicos, nem nenhuma doutrina carrega a Verdade, pois a ela só existe para o indivíduo, e é intransferível. Então o que carregam estes livros? Duas coisas: verdades parciais e ferramentas de manipulação de "gado". Cabe ao nosso discernimento captar as armadilhas que existem nessas obras entendendo os objetivos de quem escreveu e daí sugar o néctar puro que sempre existe em qualquer doutrina.

Assim, com um mínimo de estudo de Psicologia, Mitologia, História, Ciência e observação da realidade é possível até acreditar em duendes, se realmente nos dedicarmos com afinco ao ceticismo e ao exercício de pensar.



Leitura recomendada

Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Marquez
(Da inexistência de progresso)

A Filosofia Perene - Aldous Huxley
Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
(Da sociedade como defesa da natureza)

As Portas da Percepção - Aldous Huxley
(Do experimento, da Realidade da Ilusão)

Memórias, Sonhos e Reflexões - Carl Gustav Jung
(Imprescindível)

The Book of The Law (Commented) - Aleister Crowley
(Descubra o que a Besta pensa, por ela mesma)

O Livro dos Espíritos - Alan Kardec
(Divertido para sublinhar as besteiras)

Eram os Deuses Astronautas? - Eric Von Daniken
(Da persuasão. Prova que se pode convencer todo mundo de uma besteira)

Cama de Gato - Kurt Vonnegut Jr.
(Da religião e Da ciência, falando mal das duas)

Como Vejo o Mundo - Albert Einstein
(Do gênio-retardado-humanista-carrasco-em-casa-judeu-alemão)

O Colapso do Universo - Isaac Asimov
(De como somos pequenos e as estrelas grandes)

Além do Bem e do Mal - Friedrich Nietzsche
(Do filósofo anti-filósofo)
O Anticristo - Friedrich Nietzsche
O Crepúsculo dos Ídolos - Friedrich Nietzsche
(Do rei dos aforismos)

O Tao da Física - Fritjof Capra

O Matrimônio do Céu e do Inferno - William Blake


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