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Apêndice do livro Ciberxamanismo
de Eduardo Pinheiro
1. Nenhum sistema é completo, pois não é possível explicá-lo completamente partindo dele mesmo. (Ex. Para explicar o universo seria necessário um computador fora do universo. Isso é provado pelo teorema de Gödel.)
2. Não existe nenhuma verdade. Esta afirmação é falsa. Paradoxos transcendem paradoxos. (Ex. A única maneira de resolver uma questão é desistir da pergunta. Por isso alguns sistemas de crenças afirmam que quando a mente pára a onisciência é obtida.)
3. Todos os conceitos são válidos (apenas e somente) dentro de seus sistemas de crenças. Um sistema de crenças é um conjunto de conceitos que se complementam ou se justificam. (Ex. Uma religião neolítica satisfaz a necessidade do povo neolítico. O Cristianismo funciona para os cristãos. A ciência satisfaz a tecnologia. A matemática serve ao contador. Todos carregam coerência interna, embora nenhum desses sistemas carregue o que se chamaria, caso tivesse existência possível, de verdade.)
4. Todos os critérios, julgamentos, arbitrariedades e morais são baseados em sistemas de crenças específicos, e portanto são circunstanciais e não universais. (Ex. As regras de um jogo de futebol dificilmente se aplicariam ao parlamento, a moralidade cristã dificilmente seria aplicada a marcianos, intelectuais ou tartarugas.)
5. Abandonar quaisquer sistemas de crenças, embora desejável, é impossível. Existem programas compulsórios tanto biológicos quanto ambientais. O livre arbítrio é paradoxal. Quem abandona quaisquer referências "externas" se torna um psicótico, e está condenado a não interagir. O poder verdadeiro vem da liberdade relativa que o indivíduo obtém dentro de seu ambiente (semântico, social, etc.).
6. Cada elemento — da partícula à galáxia, passando pelos homens — carrega sua peculiaridade intransferível. (A maioria dos sistemas de crenças chamam de Amor o que cria a interação entre as partes. Ex. "A separação é uma ilusão criada pelo Amor ao Amor", etc.)
7. A consciência é o foco da atenção. "Ampliar" a consciência é alterar este foco. Graus podem ser assinalados, e esses níveis podem ser descritos por sistemas de crenças. (Ex. os oito circuitos, os chacras, as sephiroths da cabala.) Existem técnicas para alterar este foco, alguns sistemas de crenças chamados "Religiões" tinham originalmente o objetivo de promover estas técnicas. (Ex. Yoga, drogas, privação sensorial, choque elétrico, sexo, ritual, etc. recomendadas pelas diferentes religiões.)
8. Nenhuma ação é ilícita, porém todo ato tem seu momento ideal. A consciência estando capaz de transitar por diversos focos, experimentando diversas realidades, pode determinar que ato e que momento devem ser utilizados no sacramento da interação com o mundo. (Ex. A razão é apenas o software básico linear que permite examinar e decidir ações simples se não contaminada por fé, i.e, a prisão a um sistema de crenças que se considera auto-justificável.)
9. Já existem algumas pessoas ou seres que alcançaram esses estados e estabeleceram uma rede de símbolos para indicar o caminho. Não faz sentido falar qualquer coisa sobre essas pessoas visto que estão além do tempo e do espaço, e com certeza além dos conceitos usados pelos homens. Essas pessoas não precisam ser identificadas ou rotuladas — devemos prestar atenção somente aos sinais que deixaram. Esse conjunto de sinais é chamado de darma pelos budistas.
10. O mundo é cheio de detalhes que nos passam desapercebidos, mas nem por isso ficamos irritados com nossa falta de atenção. A Grande Obra é realizada fora do mundo das imagens, símbolos e categorias — ela se faz no "vazio", o mundo real.
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