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    DANIEL PELLIZZARI
mojo333@terra.com.br

Acerca da macrogeografia

Quarta, 17 de julho de 2002, 15h28



Em Nova Novgorvod, um homem que certo dia tentou ir à Lua amarrando vinte balões de hélio no pescoço desceu até o fundo de uma fossa que ele mesmo havia cavado no fundo de seu quintal com uma pá emprestada e avisou que nunca mais sairia dali, pois já tinha visto tudo que existia para ver. Na semana seguinte outro cidadão de Nova Novgorvod deu início às suas tentativas de suicídio, das quais acabou desistindo quando de seu corpo só restava a unha comprida e suja do dedão do pé esquerdo. Também em Nova Novgorvod existia um palhaço que abandonara seu circo mas não sua fantasia e gostava de se esconder atrás de moitas nos parques, onde ficava fumando um cigarro mentolado atrás do outro para assustar os garotinhos de bermudas que invariavelmente apareciam atrás de uma bola. Na periferia da mesma cidade, perto de onde existia um lago formado de lodo esverdeado com gosto de mingau de maizena sem canela e alto teor alcóolico, vivia um rapaz de nome João Batista, que nos sábados espremia cravos de seu peito até que, ao invés de sebo, surgissem serpentes. Foi para Nova Novgorvod que a equipe de reportagem da estação de rádio mais importante da capital foi enviada para entrevistar o dono do maior aquário de peixes tropicais do continente, que alimentava todos os dias apenas com a vasta fauna de chatos que colhia com método de sua abundante pentelhama. No andar de baixo do mesmo condomínio estatal vivia um adolescente que certa manhã acordou com a mão esquerda no lugar da direita e a mão direita no lugar da esquerda e passou as semanas seguintes divindo-se entre experimentar novas modalidades masturbatórias e tentando descobrir se havia se tornado um homossexual. Nova Novgorvod criou seus próprios ritos funerários, onde os cadáveres não eram enterrados ou cremados ou deixados ao léu ou jogados ao mar ou despedaçados para alimentar os abutres, mas despidos e destripados e depilados e salgados e deixados para secar pendurados pelos pés nas árvores de um bosque cheio de salgueiros. Foi em Nova Novgorvod que as orelhas de todos os burocratas canhotos certo dia resolveram que cabeças não eram seu limite, alçaram vôo e desapareceram na estratosfera, enquanto todos os jornaleiros destros experimentavam diversas maneiras de colar seus umbigos de volta na parte baixa da barriga, de onde haviam escapado algumas horas depois de um almoço de língua com ervilhas. Não havia mulheres em Nova Novgorvod, que assim, como um de seus habitantes que engoliu completamente a si mesmo até desaparecer sem deixar um bilhete de despedida, um dia simplesmente sumiu do mapa oficial do Império, sem que nada de verdadeiramente relevante tivesse acontecido em seu perímetro.

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