Clipagem


Correio Popular - Campinas
dezembro de 2002
Por Carlota Cafiero


BAH!

Campinas sofre hoje uma verdadeira invasão gaúcha com o lançamento de livros da editora de Porto Alegre Livros do Mal e show da banda Bidê ou Balde

O projeto Multirama, que in-clui festa, show, discotecagem e lançamentos, comandado por Delfin e Sylvie Piccolotto, chega em sua terceira e última noite do ano hoje, com uma turma que vem lá dos pampas: os editores e autores da Livros do Mal e os integrantes da banda Bidê ou Balde. A trupe veio de Porto Alegre (RS) e está em Campinas para o lançamento de livros e CD no Daktari 70's Bar.

Os editores e escritores Dani-el Galera e Daniel Pellizzari (o Mojo) e o artista plástico Guilherme Pilla são os fundadores da editora independente Livros do Mal. Enfrentaram 19 horas de estrada para vir a Campinas, e Pilla foi o primeiro a chegar, por-tanto, o primeiro a conversar com o Caderno C. Antes de ilustrar os livros, Pilla era metido com cinema, escrevia poemas e contos para zines na internet e já expunha suas pinturas. Hoje, aos 23 anos, continua fazendo individuais e coletivas em Porto Alegre, estuda artes e filosofia e está com um livro de contos em andamento.

Pilla trouxe a Campinas cerca de 30 trabalhos em técnicas diver-sas para expor na festa do Daktari. "Eu não sou ilustrador, pois não faço trabalhos por encomen-da. São os autores que escolhem uma pintura minha para suas capas", explica o artista, que já ilustrou cinco publicações da Livros do Mal.

Criada em outubro de 2001, a Livros do Mal já goza de respeito da mídia e da crítica especializa-da. Tanto que é comum resenhas nos principais jornais do País. Até agora, traz seis livros de contos na bagagem, que têm em comum o universo e personagens suburba-nos, em situações quase sempre absurdas.

"Por enquanto, damos ênfase à narrativa de ficção, mas já rece-bemos diversos trabalhos na área do teatro, romance, poesia e até quadrinhos, que é um campo que a gente quer investir. Somente crônica que não temos interesse em publicar", disse Daniel Galera, em entrevista ao Caderno C. "Consideramos as crônicas subgêneros hiperestimados", critica Daniel Pellizzari. "É que gos-tamos de narrativas que ousem mais na criatividade", emenda Galera, que também colaborava, junto com Pellizari e Pilla, com o extinto e-zine Cardosonline, res-ponsável por revelar escritores da nova geração.

A Livros do Mal começou com a ajuda do Fumproarte, um programa de financiamento cultu-ral criado pela prefeitura de Porto Alegre. O projeto da editora foi escolhido em primeiro lugar entre centenas de outros projetos de teatro, dança, cinema etc. Agora, segue em esquema de parceria com os autores, que pagam o custo da impressão.

Mais três títulos que acabam de sair do forno serão lançados em Campinas: Ou Clavículas (Cristiano Baldi), Húmus (Paulo Bullar) e O Livro das Cousas que Acontecem (Daniel Pellizzari), com preços promocionais na noite de hoje, junto a outro livro que saiu em maio deste ano - Vidas Cegas, de Marcelo Benvenutti. Todos os autores estarão presen-tes na festa.

Em edições enxutas, valori-zadas pelas ilustrações de Gui-lherme Pilla (Ou Clavículas, Húmus e Vidas Cegas) e Luiz Pellizzari (O Livro das Cousas que Acontecem), os três novos títulos reforçam o desejo que os criado-res da Livros do Mal tiveram numa não tão longínqua madrugada: "Fazer a nossa editora, nos-sa marca e nosso grupo de inicia-tiva independente", dizem no site da editora: www.livrosdomal.org.

Daniel Pellizzari volta este ano com seu segundo livro de contos, após o elogiado Ovelhas que Voam se Perdem no Céu que inaugurou a editora ao lado de Dentes Guardados (o livro de contos de Daniel Galera) e Vidas Cegas, de Benvenutti.

Paulo Bullar e Cristiano Baldi são novidade. O primeiro mora em Salvador e, aos 22 anos, pu-blica pela primeira vez seus es-critos - que também podem ser conhecidos no site http://kzine.cjb.net. Baldi nasceu em Caxias do Sul (RS), tem 27 anos e entrou também para o - por enquanto -, seleto grupo de jovens escritores. Alguma mulher se habilita?


CONHEÇA AS OBRAS

Húmus (104 págs.)
O baiano Paulo Bullar es-colheu os animais e os ambi-entes rurais para retratar a po-dridão humana. Imagens de sonhos, pesadelos e situações surreais como aves assassinas sobrevoando o tráfego, mulhe-res grávidas de lagartas e ratos gigantes dão o tom apocalíptico ao livro. O sexo também é pre-sente em seus contos, igualan-do animais e pessoas.

Ou Clavículas (113 págs.)
O primeiro livro de contos de Cristiano Baldi, gaúcho de Caxias do Sul, traz 25 contos nos quais a violência do cotidi-ano, da solidão, da depressão, das relações e do sexo permei-am as histórias curtas e cruéis. No universo criado por Baldi o ser humano parece estar com validade vencida. Não há qual-quer tipo de personagem que inspire compaixão.

O Livro das Cousas que Acontecem (120 págs.)
Aqui os irmãos Pellizzari se reúnem para dar cara ao se-gundo livro de Daniel pela sua editora. Dividido em duas partes - Zero Kelvin e Orelhas que Voam - é a publicação mais absurda dessa nova leva da Livros do Mal. Das ilustrações aos contos, o absurdo é o pano de fundo para histórias profun-damente humanas, que revelam seres ávidos por alguma mu-dança, qualquer que seja, em suas vidas medíocres.

Vidas Cegas (176 págs.)
Mais uma vez o tédio urba-no é retratado em cores fortes nos 70 contos do gaúcho Mar-celo Benvenutti. Suas persona-gens são os milhares de anô-nimos que vagam pelas ruas das grandes cidades - loucos, vagabundos e vagabundas so-litárias que têm suas vidas de-vassadas pela narrativa sarcás-tica, mas por vezes tomada de ternura, de Benvenutti. (CC)