Clipagem
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Paulo Scott, o autor deste livro, não é nem um pouco louco, apesar das
insanidades que acontecem em seu segundo livro, Ainda Orangotangos. Não,
deixe-me voltar atrás a tempo: ficção não é insanidade, é um exercício de
possibilidades. E este exercício é colocado em cada parágrafo; e são parágrafos
longos, acredite. Mas todos têm a suavidade necessária, quando necessário. E
muitas dimensões, para quem tem olhos para vê-las. Boa parte destas
possiblidades se sobrepõe no universo da cidade de Porto Alegre, que cada vez
mais se torna o pólo de histórias que permeiam a multidimensionalidade da vida,
como as que Scott conta, descascando as camadas da realidade aparente para que
possamos vislumbrá-las, nem que seja só um pouquinho. Seu livro é acompanhado de
uma trilha sonora composta especialmente para a obra, com destaque especial para
Flu (que lançou recentemente No Flu do Mundo, um disco que todo mundo deveria
escutar ao menos uma vez) e Paulo Campos. A trilha embala cada história. Talvez
para tornar mais digerível ao leitor comum a sensação de estar entrando em
lugares entreabertos, úmidos e distorcidos, os quais foram feitos para todos os
atrevidos entrarem, mas que precisam de olhos fortes para encará-los de frente.
Você pode não estar preparado para isto, mas Scott não se importa nem um pouco.
Porque ele também é atrevido. Uma qualidade que anda, por sorte, cada dia menos
em falta na literatura brasileira.
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Todos as ilustrações © Copyright 2001-2003 Guilherme Pilla de Araújo. Porto Alegre, RS, Brasil. |