Clipagem
Folha de Londrina Três autores na trilha do Mal "A literatura é o essencial ou não é nada. O Mal uma forma penetrante do Mal de que ela é a expressão tem para nós, creio eu, o valor soberano. Mas esta concepção não impõe a ausência de moral, exige uma hipermoral". O conceito, elaborado pelo escritor francês George Bataille no volume de ensaios "A Literatura e o Mal", está inspirando uma nova safra de escritores no Brasil. Três deles, todos jovens gaúchos de vinte e poucos anos, estão estreando no mercado editorial depois de uma badalada passagem pela Internet. Daniel Galera traz a público a coletânea de contos "Dentes Guardados". Daniel Pellizzari debuta com "Ovelhas que Voam se Perdem no Céu". E Marcelo Benvenutti chega às prateleiras com "Vidas Cegas". Todos chancelados pela editora independente Livros do Mal, criada no ano passado pelos dois primeiros em parceria com o designer gráfico Guilherme Pilla para escoar seus textos. A publicação contou com apoio da FUMPROARTE, um programa de financiamento cultural da Prefeitura de Porto Alegre. Os lançamentos têm sido aclamados pela crítica como um sopro de renovação na prosa contemporânea brasileira. Antes, todos eles ostentavam prestígio como pioneiros na criação de sites de literatura na web. Durante algumas temporadas, mantiveram colunas no Cardoso Online (COL), um dos mais interessante fanzines eletrônicos da rede, que chegou a contar com 4.800 assinantes. Há quem já tenha detectado características da linguagem prosaica e ligeira da Internet na própria escrita dos escritores, o que eles negam. Num resumo grosseiro do que já se escreveu sobre os livros, sublinhou-se que suas narrativas revelariam em comum experiências e dilemas de personagens urbanos cosmopolitas. Explorando o tema das relações amorosas na maioria dos contos de "Dentes Guardados", Daniel Galera imporia uma tônica confessional que aproximaria seus personagens do que se convencionou chamar de "literatura pop" pelas menções a bandas, filmes e livros. Em "Ovelhas que Voam se Perdem no Céu", Daniel Pellizzari enveradaria pelos experimentalismos formais prendendo a atenção do leitor com soluções inesperadas. Já em "Vidas Cegas", Marcelo Benvenutti reuniria 70 parábolas enfeixadas em títulos como "Vida de Jonas", "A Vida De Paulo" e "A Vida dos Mortos". O sucesso dos livros já extrapola as fronteiras nacionais. Uma editora de Milão acaba de adquirir os três títulos com a promessa de traduzí-los e publicá-los na Itália ainda esse ano. No Paraná, os volumes estão à venda nas livrarias Curitiba, da Capital. Podem ser encomendados também no próprio site da editora: www.livrosdomal.org. A seguir, leia entrevista com Daniel Galera.
Daniel Galera fala sobre os textos publicados pela Livros do Mal e a opção pela internet
Qual é a proposta da Livros do Mal?
Quando vocês escreviam os livros, já planejavam publicá-los por uma editora própria ou pensavam primeiro em
mandar os originais para as editoras estabelecidas?
Vocês estão lançando um novo autor Marcelo Benvenutti. A editora já está empilhando originais de outros
escritores novatos? Como está o nível dos textos?
Há algum critério específico para selecionar os autores a serem publicados pela Livros do Mal?
Como anda o panorama literário brasileiro. Há escritores instigantes, ou todos estao acomodados em fórmulas
desgastadas? Que autores vocês sempre lêem?
Vocês fazem parte de um novo fenômeno na literatura brasileira, que é o fato de terem começado a escrever
na web. A tentação jornalística de classificá-los como a "geração internet da literatura verde-amarela" é
grande... Mas o que, afinal de contas, significa isso? Existe uma linguagem específica na rede? O que a
caracteriza? Seria ela uma das responsáveis pelo sabor de novidade que os críticos estão detectando nos
títulos da Livros do Mal? Que lugar, enfim, vocês atribuem à internet em termos de escala de importância para
a renovação da literatura?
editora@livrosdomal.org
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