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Curto ou longo, tiro de Galera acerta na mosca O novo livro de Daniel Galera, Até o Dia em que o Cão Morreu, recém-lançado pela gaúcha Livros do Mal, é uma história sobre o amor. Mas, como um bom livro, é muito mais que isso, e não cai em clichês fáceis, em saídas óbvias ou em personagens ingênuos. O protagonista é um daqueles tipos previsíveis, típicos dos anos 90, que quer fugir do estereótipo “canguru” sem muito sucesso. O “no future” parece ser mesmo a única saída: depois de um curso superior e diversos empregos frustrados, ele vaga por Porto Alegre e divaga em seu apartamento, no 17º andar de um edifício, para onde leva a garota com quem tem uma relação descompromissada e angustiante e onde, de maneira inusitada, passa a cuidar do cachorro do título. O livro, que tem a contra-capa assinada por Fabrício Carpinejar e orelha de João Gilberto Noll, é uma narrativa longa (se comparada aos outros escritos do autor) que, inclassificável como convém ao texto pós anos 90, fica entre o romance e a novela. E, ao contrário do que deixa transparecer a preocupação do autor nos agradecimentos, é perturbadoramente verossímil, dentro do universo particular que ele cria para seus personagens.
Se o enredo parece simples, o estilo cortante de Galera não o deixa cair no lugar-comum. Nesta sua primeira incursão (publicada) pela narrativa mais longa, em que abandona os curtíssimos contos da época do COL e do primeiro livro, Dentes Guardados, Galera mostra que domina não apenas o “texto-tiro”, aquele que pega o leitor de forma rápida e fulminante. Galera mostra aqui que tem fôlego para nos tirar o fôlego. Não a cada página ou capítulo, mas a cada parágrafo, surpreendendo e alertando-nos de que a vida é muito mais estranha, complexa, difícil e arrebatadora que uma novela sobre o amor.
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