(putaria.)
#4 ; edição calhorda

 

transvertendo

epitafistas

moema vilela pereira

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] eu sonhei. tinha um sentimento de acabar de ver desprezado meu currículo numa companhia nova. Estando porta fora descobri que tinha sido feliz numa outra empresa: contraíra uma espécie de deficiência visual, tapando um olho com a palma da mão encontrava o ar cheio de insetos voadores, libélulas, cigarras, bichos cobertos de tribais coloridos. Em todos lugares. Um escorpião negro desafiava a harmonia com travessuras santas, nos adotamos um ao outro e depois ninguém precisava fazer mais nada porque estávamos noutro lugar e mortos. Então percebi umas rãs que tripudiavam em telhas. Aquilo tudo era muito estranho e parei de cenho franzido, continuava uma criatura mole demais e escorreguei um passo prá trás numa tontura frouxa; isso tudo durou um segundo até sentir o escuro encostar, o escuro, eu apertando os olhos, cada vez mais perto, engolindo os espaços, entrando no fundo do fundo do fundopépépépépépéPÉPÉPÉPÉ.

Faz um tempo tenho a sensação de estar acobertando uma miopia em mim. Tenho quase certeza, falei pro meu pai. Existem cirurgias, mas depois o que houve foi a quase impossibilidade de deixar aquela cama, eu me sentindo um trapo equatorial que a tudo prescinde de cálcio(sem querer parecer delicada). Tropecei algumas até o rádio-relógio, o corredor escuro, a televisão. Arranjei um canto no chão da sacada, linda vista. Queria que o Paulo Francis estivesse vivo. Ou desmontar essa sacada em alfabetos que apanham e ficar uma tarde toda no repeat com algum objeto outro por aí e tudo culminando prá um delicado e sensível, tudo muito prás pessoas inclinadas à. Sem falar em todas as maneiras de se arranjar as letras tendendo a tudo que é batido e gasto, e tanta gente mesmo falando que é importante lembrar o valor das coisas gratuitas.

O tempo passa enquanto não tenho paz (sem limites ~ mal-educada z cada um com sua merda) e isso e o que sobra disso é tão cheio de angústia quanto eu chegando à sacada e o sol subindo pelos prédios deixando aquele ar de shiva las vegas com um medo gelado no pulmão, tumtumtumtumtumtum quíííí, quííííí [ e pequenas coisas devolvidas dos freqüentadores assíduos do mundo = ratos de praia = mais que a virtualidade do tiro prá sempre / signos = rato = tratante = bichinho inocente furtando idéias rolantes de um vizinho rabudo e carregando pros buracos no assoalho, na despensa, embaixo de tábuas = t-h-e_e-n-d quíí ]. Na beira das construções o céu ganha um alaranjado faroéstico, seguido de um azul espesso muito firme e separado do laranja por uma linha mais escura que o vermelho. A verdade é que meu corpo não agüenta mais um minuto em pé, e eu continuo aqui observando o panorama da cidade como uma funcionária da bossa nova dissolvida em vinho, volvendo a única admiração que encontrei. A admiração com toda sorte de explicações simplistas, lugares-comuns e seus empregados, pessoas ofendidas quando as trato como adultas. A estranheza das pessoas às minhas opiniões sobre a fidelidade e tudo que coubesse em seus fuso-horários. E eu nessa abulia que não me deixa sozinha, representando a minha farsa sem-graça e desimportante. Desenhando os traços do que é cinzento e indiferente, me movimentando como um pequeno voador no reino do que é alheio e não-reativo, bailando em pequenas invenções que me fizessem voltar prá casa, me obrigando a criar compromissos que cumpriria se tivesse sorte. À tarde trocando a pergunta entediada do que ter pro jantar. E o que existe é o sem sal e o vazio, o descentramento e a identificação líquida com todas as coisas. Eu não durmo há tanto tempo. Não gostando em especial de você nem de ninguém, amando do tamanho do meu espírito perdido, sendo indiferente ao seu erótico e a tudo que você tivesse de sensual. Achando tudo nobre, virando e revirando toda falta de moral que eu sempre tive; confiando tanto em você quanto em mim e em qualquer mané que, como nós, sentisse estar em alguma espécie de eleição. "Desenvolve". Não lembro como é ser diferente. Invertamos, companions de merda, como um pastor que criava saudades em cativeiro prá construir tijolos. As coisas acontecem com uma desconstrução que uma mimada como eu não consegue compreender. As coisas, isso, eu, eles, nós:

Irrevertor dos lugares abandonados. Abandonado de protocolos desérticos. Sozinho com os porcos. Não usando talheres pros ensinamentos de Jesus. Lembrando das pérolas de cada vez e descontando em 50% cada criatura por ter certa predileção por ela mesma. Dotado de espancamentos por falta da atenção irrestrita - ativo,passivo,compassivo. Quebrando falanges em paredes e ossos do amor celebrado no que for devorador e absoluto, a tensão da força mais que a falta. Enchendo incógnitas de proteína. Alimentando o que você tem de fraco, o que você tem de podre e ruim. Transportando fígados, baços e rins vertendo mal e se acabando. Se acabando em todos sentidos que se acabando permite. Penando a transverter epitafistas = verter/traduzir/perturbar. Procurando transpirar a graça das tabuletas além da linguística, que inevitável se arranja bonitinha em nossas cabeças piradas: ´é impolido dar-se ares de importância, é ridículo levar-se a sério, ora, leveza, pensa que é grande coisa, a grandeza de caminhar na linha do que não tem sentido sem ser insensível, diversão, palavras, etc, etc´. Escorrega, apodrece, desaparece. Em seu desenho vago e triste. A maravilha das manifestações incorporadas. Limpar em cacos e cortes a linha dos universos e transfazer em ti, revirar o anti-belo e o belo. Criando algumas larvas que morrerão apesar de toda esperança em cima delas. Penteando os filhos pro enterro da larva morta. A larva morta é uma bela morta e rezo prá entendermos e a deixarmos afundar para o próximo desvio. Não entendi a larva preferida. Deus acabou prá esse desgosto que eu tinha de aeroporto na década de 50, um indo, amanhã retornando prá não-casa. Ele voltando em casulos de energias dançarinas, caloteiro do caos, fazendo pilhéria do que fosse promíscuo, dos improvisos malditos, apesar da arte, apesar da criação, maldito esquecimento da criação, mandar Buda catar coquinho que eu ajoelho tanto mesmo sem querer em troca e vem a natureza me dizer que o fluxo da vida é impressionante e cresça. Que cresça o que. Parece-me que apesar da minha insistência em querer escolher alguma coisa eu acabo sendo boa mesmo no que é trocado, no incerto. Então vamos dar uma de natureza e esquecer, apropriar o descaso com nossos compromissos. Ad perpetuam rei memoriam. Cuspindo a polidez na sétima missa da frieza. Recebendo a visita da boa-fé, observações. Ser um depósito de boa-fé a trair minhas desilusões tão leais. Coleguinha. How insensite i must have seemed. Entendesse? Quem entender ganha o sono de oitava série, que é tudo que temos no momento. Ascenda das larvas cada qual por sua vez, em todas as direções, entregando as adoecidas do nosso acervo de ancestralidades. Vamos apanhar dos latrineiros - ooh, que indistinção. Minhocas de intervalos desfigurando com buracos concupiscentes o terreno onde o que opera é a abulia / minhocas cavando galerias de envolvimento / a desfiguração das minhocas elas mesmas - real virtual / quííí quííí. Eterno mesmo é a inquietação; embora acabar é absoluto, nunca foi o pior prá mim. O maior é a atualidade do que se sente, para qual preciso de muito mais coragem que prá qualquer outra coisa; é a impaciência pela minha morte.

Hoje o frio veio à toda e vivam as minhocas. Eu deixo de hipotecar na clareza esse corpo sexuado e mortal, tenho até alguma fome e vou levando uma trilha de guinchados a transcender o céu dessa cidade dos impuros até que me esqueçam, que alguma coisa acabe por alguns minutos completos, que não existam nem versinhos queridos na paz de não ter futuro. Anatomia é destino.

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(putaria.)