(putaria.)
#4 ; edição calhorda

 

décimo segundo

milton colonetti

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ele desfilando entre as abominações noturnas, desvencilhando-se das investidas das putas das esquinas, discursando sobre a danação com sua ébria prolixidade; sentindo, por antecipação, as impiedosas e peçonhentas garras das bacantes revirando suas entranhas gastas pelo etílico veneno

ele é Dionisius que saltita entre os vinhedos, evitando as fétidas poças de vômito novo [refeições mal digeridas e bílis], e abençoando os mendigos que dormem sobre sua própria imundice, pois deles é o REINO DOS CÉUS

priápico ser que espalha suas sementes ao vento, conhecendo todos os labirintíticos hotéis de cinco reais e trinta minutos, de mofo podre nas paredes e tetos mal caiados, de banheiros coletivos e quartos sem luz, de janelas eternamente emperradas e lençóis manchados, de camas que rangem e bacias plásticas que fazem as vezes de penicos, de perene odor corrupto e inverossímil sentimento de redenção, de sangue podre e porra e assassinatos e de vítimas sem algozes e verdugos sem rostos

valsando titubeante, lassos passos desfeitos, assimétricos, toma assento na sarjeta nossa de cada dia, passado presente interlúdio, despeja um jorro fruta cor, marca seu território, uma vez mais; recria o padrão com pontas amareladas de delgados dedos, onanismo, como sempre; todo fluido que sai é porra

observa a nova configuração dos corpúsculos mergulhados na sopa gástrica, divisa o futuro, enxerga, mais com as entranhas engulhadas do que com os olhos, sabe que este é o paraíso, perdido por antecipação


quem já observou, com os olhos ou com a mente, a bolha mercurial que desprende-se da medicina dos metais fermentada, subindo pelo gargalo da retorta, contornando meticulosamente cada curva do sacro receptáculo, numa fornicação de furores tântricos, elevando-se como a prece murmurada pelo condenado sobre o patíbulo, para finalmente coroar o mais alto chackra com sua translúcida geodesidade impetuosa, e num último ganido entusiástico expiar numa compassiva apoteose não-euclidiana; quem compreendeu o evangelho da cevada, e pressentiu em cada gole o sussurro profano dos santos e o arroto beatífico dos demônios, sabe que em cada garrafa, sobre cada mesa, jaz um cristo a ser sacrificado pela redenção da humanidade

veneno fermentado escorroendoadenoideadentro, na labuta pustulenta de reconhecereconditosrecantos de sua própria massa carbônicarcomida, seca podre vazia; espasmódica convulsão, pássaros, entranhas, a direção dos pés do enforcado, a forma dum tolete de merda, quer MESMO saber do futuro?

pergunte aos teus bagos

maçante morosidade mefítica, força a subida, céu e inferno, gira gira gira; que forma é esta, conjurada de que profundezas, voz embargada, olhar extinto pelos vapores numinásticos das cadeias enóicas, surgindo, tomando consistência, e consciência, ao seu lado?

pontos luminosos pipocam pelo seu campo visual, visceral; o falo ventríloquo fala por ele, fênix monolítica, re-ergue-se, rediviva, do seu ninho de negros fiapos, num despertar glorioso, enquanto as frenéticas valkirias continuam seu bailar cíclico bradando uma conjuração macabra de "ois" "olás" e "você está bem?"

estende seus tentáculos, todos os cinco, em direção a ela, o reflexo atávico que faz a cria procurar a mãe depois de acordar de sonhos tempestuosos, escora-se em sua fugaz realidade, e na vaga lembrança de algo ser; aninha seus ossos nos dela num mórbido abraço necrófilo de cadáveres nem tão adiados; acomodado em seu artificial útero, dorme o sono dos justos, descansa sob as fundações de seu mausoléu; a cada morte, um novo re-nascimento.

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(putaria.)