(putaria.)
#5 ; edição cajadada

 

ana paula,
meu amor

eduardo nasi

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Ana Paula, seus pais e irmãos. Ela bebia negrocola e as bolinhas arranhavam sua faringe. Usava calcinhas de algodão, uma cara de tédio e um moleton cor-de-rosa. O tubo de imagens entretia rostos de uma família de bonecos de cera de museu inglês. O pai diz: somos abençoados por Deus. Ana Paula, suas gavetas e o pote de desodorante que penetrava a sua boceta. O quarto era cor-de-rosa. As veias e as artérias da boceta estavam encharcadas de sangue. Urros contidos se tornavam gemidos. Ana Paula socava o pote de desodorante até o útero. De manhã, Ana Paula era virgem de novo. E, no colégio, sorria para Valério, o colega com a camisa xadrez por dentro das calças.

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Valério tinha alguns músculos e dezessete anos. Jogava algum esporte e tocava em uma banda de pop rock. Ao contrário do que pensam meus leitores, Valério não é um clichê. Nem Ana Paula, nem eu. Somos arquétipos. Arquétipos de ti mesmo, que lês em nós meros clichês de tua vida presa a padrões televisivo-literários. Este é o momento em que eu, o autor, te desafio. Um desafio a ti, meu leitor. Imagine o que o colega faz no vestiário. Tenta ser criativo, tenta descobrir o que um adolescente faz em um vestiário após a aula de Educação Física. Dou-te um tempo para pensar. Enquanto isso, contarei uma história idiota para matar teu tempo inútil.

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Um dia de sol. Joana. Feira. Na avenida Gumercindo Saraiva, na minha capital natal, a cidade de Ocidente. Faltava uma exata hora para nosso marido chegar. Eu e Joana nos confundíamos em uma só. Tínhamos nascido no mesmo dia, em hospitais homônimos que ficam em pontos opostos do planeta. Acabamos nos apaixonando pelo mesmo gnomo, casamos as duas com ele, meio a contragosto do frade. Viemos morar em Eldorado no Ano de Nosso Senhor de 798. Nosso marido-gnomo colhia dinossauros e, naquela época, Eldorado era um solo fértil da espécime dos estegossauros (1). Joana usava minissaia e rebolava. Os feirantes fiu-fiavam ao tremer-passar daquela bunda carnuda. Só seus cabelos longos sacudiam mais que aquele ânus que se tornara uma horta de hemorróidas de tanto ser enrabado.

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Trancado no vestiário masculino, Valério comia baratas que catava nos ralos do banheiro. Ele se masturbava enquanto mastigava os insetos. Na boca, ruminava-os, fazendo-os subir e descer pela garganta. E ele não gostava. Caso tu não saibas, as baratas são tóxicas, graças a glândulas venenosas que impedem qualquer criatura de comer mais do que três ou quatro baratas. Mas Valério comia três ou quatro delas, vomitava e comia mais algumas. Pelo simples prazer de matar baratas de um modo inusitado. E ele só se masturbava enquanto matava os bichinhos porque penso em ti na hora de criá-lo, amado leitor. Hoje, passados tantos anos, fico imaginando o pau do colega penetrando o umbigo e rompendo os tímpanos de Ana Paula. Aquela imagem sacrossanta de moça de boa família. Aquela imagem sacrossanta morreu virgem. Mas o que me impede de fantasiar a respeito de tão lambível e respeitosa vagina?

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O campo aberto do Texas. Lá, o colega era um intercambista. Lá, um meteorito caiu a uns cento e vinte e sete metros de onde estava o intercambista. Era um desses meteoritos que davam poderes mágicos, um meteorito nostálgico dos anos 50. O colega se tornou virtuoso quando tocou a pedra caída. Parou de comer baratas, cortou o pau fora com uma chave serrilhada e ganhou o poder de se transformar em um objeto qualquer por uma só noite. Quando voltou do Texas, o colega invadiu o quarto de Ana Paula, adquiriu a forma de um desodorante e esperou por ela. Durante doze horas, aguardou a moça, a que retornou ao seu quarto com um pepino quente recheado de álcool que fazia a boceta arder. Até morrer, o colega ficou aguardando que Ana Paula voltasse a sentir tesão pelo frasco frio de desodorante. Mas a escolha da senhorita de sua afeição fora feita, e era inexorável: vida longa aos pepinos quentes recheados de álcool, mais anatômicos. Vegetais que gozavam e tinham cheiro de gente. Porque, ao contrário do que pensa a ciência ortodoxa contemporânea, as pessoas são vegetais.

(1) Muita gente não sabe, mas os dinossauros, ao contrário do que defende a ciência ortodoxa contemporânea, eram vegetais.

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(putaria.)