(putaria.) |
#5
; edição cajadada
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pergunta |
gordon legge
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traduzido por daniel pellizzari
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Aí eu vou pra entrevista de emprego e o cara diz "tá certo,
me diz o título de cinqüenta singles do The Fall".
Eu digo "o quê?".
O cara diz "você me ouviu. Vamos lá. Dois minutos. Dois
minutos que já estão valendo".
Eu precisava... e eu consegui.
O cara faz um risquinho no livro-caixa que está em sua
frente.
"Certo", ele diz, "próxima: você já se ligou no jeito com
que algumas pessoas torcem a cara quando fumam, e o jeito
com que outras pessoas relaxam a cara quando fumam?".
Eu digo "só".
O cara faz um risquinho no livro.
E aí ele me encara direto nos olhos. "Reencarnação", ele
diz, "o que você pensa sobre o assunto?".
Eu dou de ombros. "Ah, tipo, pra mim parece que é isso aí
mesmo".
O cara mete outro risquinho. Risquinho número três. Bela
coluninha de riscos em crescimento.
"Pergunta Número Quatro", ele diz. "Pergunta Número Quatro.
O que você faz na hora dos comerciais?".
"Fico revendo os gols da semana", eu digo.
O cara parece surpreso. Outro risco no livro.
"Quatro em quatro", ele diz. "Nada mal".
O cara deixa escapar uma risadinha.
Eu também dei uma risadinha e tal. Vamos ser justos, este
cara é legal.
"E no verão?", ele diz.
Me pegou desprevenido. Então ele fica me olhando - tá
tentando ser espertinho.
"No verão", eu digo, "eu tento conseguir o zero no contador
do vídeo-cassete usando só os botões de voltar e avançar".
O cara entende das coisas. Ele faz um risco e então abre uma
gavetinha, tira uma folha de papel transparente, descola uma
estrelinha dourada e cola do lado do risco número cinco.
"Por sinal", ele diz, "quanto dinheiro você tem aí?".
"Peraí", eu digo, metendo a mão no bolso.
"Não", ele diz, "eu quero que você me diga, filho. Você está
querendo dizer que não sabe?".
"Sei", eu digo, "claro que sei. São duas moedas de uma
libra, uma nota de uma libra, uma moeda de cinquenta, três
de vinte, uma de cinco e quatro de um".
"Bem", ele diz, "é tudo que eu estava querendo saber, filho.
Aprenda: quando as pessoas lhe fazem perguntas, você dá
respostas, ao invés de fazer com que elas percam tempo".
Eu concordo com o cara. Ele tá certo. Ele coloca um risco no
livro e eu deixo escapar um suspiro de alívio. Fiquei na
risca durante um minuto.
"Certo", ele diz, "duas rapidinhas - quando foi a última vez
em que você mentiu?".
"Faz uns cinco anos", eu digo.
Ele faz um risco.
"E", ele diz, "que time você odeia mais?".
Eu dou de ombros.
O cara faz um risco.
"Você está indo bem", ele diz, "indo bem. Continue assim. Só
faltam duas".
Eu fico esperando.
"Agora me diz", ele fala, "você aprendeu como trapacear nos
Gladiators?".
"Claro", eu digo ... mas não conto pra ele. Não quero fazer
ele perder tempo. Tô apenas dizendo o que ele quer saber.
O cara me olha. Eu olho pra ele.
O cara abre um puta sorriso. "Muito bem", ele diz, "você está
aprendendo".
O cara faz um risco e escreve uma anotaçãozinha do lado.
"Certo", ele diz, "até aqui, tudo bem. Tudo que posso dizer,
filho, é que a bola está no seu pé. Entende o que eu quero
dizer?".
Eu faço que sim com a cabeça.
"Certo", ele diz, "última pergunta. Pergunta Número Dez".
"Tô escutando", eu digo.
O cara respira fundo. "Pergunta Número Dez", ele diz,
"Pergunta Número Dez - e, a propósito, boa sorte, filho".
Eu faço que sim com a cabeça.
"Tá bom", ele diz, "lá vamos nós. Pergunta Número Dez - você
preferiria a) ser bonitão ou b) ter uma benga de tamanho
decente?"
Eu penso sobre a pergunta. É das difíceis. Eu digo, "pode
repetir a pergunta, por favor?"
"Claro", ele diz. "Pergunta Número Dez - você preferiria a)
ser bonitão ou b) ter uma benga de tamanho decente?"
Eu fico todo agitado. Por Deus, ele vai achar que eu nunca
pensei sobre isso antes.
O cara coloca uma cruz do lado da Pergunta Número Dez.
Ele fecha o livro, larga o lápis e se recosta na cadeira com
as mãos atrás da cabeça.
"Sinto muito, filho", ele diz, "o tempo acabou".
Ele coloca o livro de volta na gaveta de onde tirou a
estrela dourada.
"Agora, meu senhor", ele diz, "é bom você deixar seus dados
com a moça da recepção, aí o colocaremos nos arquivos e lhe
informaremos se alguma vaga surgir no futuro próximo.
Obrigado, por enquanto é tudo".
O cara pega um relatório do outro lado da mesa e começa a
folhear.
Eu fico sentado. Não me mexo.
O cara olha pra cima. Ele me olha como se eu fosse um
retardado.
"Por enquanto é tudo", ele diz. "Obrigado".
O cara indica a porta com a cabeça.
Eu digo "é a benga, não é? É a benga".
Ele diz "sinto muito, meu senhor. Você precisa compreender,
não há maneira de eu influir em suas respostas.
Agora, como eu já disse, o melhor é que você deixe ...".
Eu me inclino sobre a mesa. "Não", eu digo, "não é a benga,
é ... não é não, é?".
"Tenha um bom dia, meu senhor", ele diz. "Agora, se você me
permite, ...".
Eu me ponho em cima do cara. Agarro ele pela lapela e começo a
chacoalhar.
"Vamulá, meu", eu digo, "me diz, eu quero saber, eu preciso
saber isso".
Na hora em que estou quase pegando ele pela garganta percebo
que o cara tá olhando pra esquerda.
Eu olho pra esquerda dele e tal.
Tem uma luz verde piscando em cima da porta.
Dois segundos depois, dois caras com camisas azuis de manga
curta entram correndo.
E isso é a última coisa que eu lembro.
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(putaria.)