(putaria.)
#5 ; edição cajadada

 

nena e ele

mariana e. messias

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- olha, não é por acreditar nem nada, mas se tivesse que escolher eu queria ir com você.

ela olhou para os lados e disse:

- psssst menino, não fala besteira, imagina se alguém ouve.

ele encabulou, ou ficou magoado, e olhou para o chão, brincando com pedrinhas com a ponta das chinelas velhas, fazendo uma poeira chata, que entrava no nariz e dava vontade de espirrar.

- mas eu achei que você confiasse em mim

- não é isso, você sabe, imagina o que as pessoas iam dizer se soubessem...

- psssst.

agora foi a vez dele censurar a falação porque jurou ter ouvido barulhos vindo do outro lado da cerca, do lado da casa mais velha da cidade. nena pegou na mão dele, com medo. ele se sentiu homem, precisava protegê-la. era de noite, os pais não gostam que os filhos saiam de noite. se a mãe de nena soubesse ia condenar duplamente a filha, uma por ter saído de noite, outra por ter ido para aqueles matos, do lado daquela casa. mas a mãe de nena não entendia nada mesmo, e ele subiu em uma pedra para ver se conseguia enxergar melhor o que estava havendo pelos lados da antiga casa, sem largar a mão de nena desceu da tal pedra com a mesma quantidade de informações que tinha quando subiu nela. a mãe de nena gostava dele, sempre brincava que iam se casar, mas sabia que ele respeitava nena, ele nem pensava em casar, muito menos com aquele barulho, aquela confusão, aquelas dúvidas. talvez eles nunca voltassem de lá. o pior é que não podia deixar nena sozinha e ir ver o que era, o barulho podia ser uma armadilha para pegar nena, no que ela largou a mão dele e se sentou na pedra. nena suspirou, ele voltou a sentir um fracasso. um menino de chinelas velhas e só. nena precisava de um homem para protegê-la, quando olhou para o chão ouviu nena dizendo:

- vamos embora daqui, isto é tudo besteira mesmo.

ele sabia que nena queria ir embora dali porque ele estava junto, não porque não acreditasse em tudo. sentou ao lado de nena e pegou na sua mão. pausou tudo o que estava acontecendo no corpo dele, só a mão existia. e ela fazia: tum, tum. tum, tum.

- posso te dar um beijo?

- que isto, nena? você está louca? e se sua mãe descobre?

- ah, não seje bobo, ela gosta de você.

de novo o barulho vindo da casa, ele pode jurar que era seu coração que estava fazendo todo o barulho, coração disparado, nena com os pelinhos loiros do braço encostando no braço magro de menino dele. abstraía o barulho, olhava para nena. ela sempre com a mesma cara de quem quer entender tudo, de quem quer ver. ele queria ser como ela, mas pouco importava para ele o que estava vendo. via, era certo, o que queria ver, sempre nos olhos da menina mais bonita da cidade.

- ou nós vamos embora ou tentamos chegar mais perto.

- perto do que?

- você já esqueceu porque veio aqui, seu bobo? - ela disse enquanto ria baixinho. talvez risse baixinho por medo, talvez por ser uma menina educada. ele perguntou:

- você ainda quer me dar um beijo, nena?

ela ficou vermelha de vergonha, baixou os olhos. ele olhou para frente se sentindo o menino fracassado e medroso de sempre. tinha certeza que tinha dado um passo além do que deveria, mas nena lhe tascou um beijo. foi uma coisa rápida. dois lábios de criança sendo pressionados um contra o outro, o restinho da saliva no início do interior nos lábios dela, ele se sentiu corar, ela virou o rosto para o lado oposto, largou a mão, acabou com os vínculos, ele podia ver a ponta da parte mais alta do velho casarão de onde estava sentado, os olhos cheios de lágrimas de uma alegria aguda, uma felicidade que dói, uma dor que diverte, virou para nena para perguntar o que seria agora e ela não estava mais ali. no silêncio do meio da mata, só ouviu ao longe os barulhos do velho casarão, aquela história mal contada sobre o que tinha havido lá. mortes, fantasmas, talvez algum amor. jurou que aquilo tudo era o som da sua alma e se levantou. foi para casa sozinho, nena nunca mais foi encontrada.

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(putaria.)